No
mundo capitalista, onde quem manda mais é quem tem melhor condição financeira e
consequentemente maior poder social, percebe-se que a massa da população fica a
margem desse sistema. O capitalismo rege o mundo diferenciando classes e
fomentando de forma indireta ou diretamente a desigualdade. No dia a dia com os compromissos e a correria de
uma vida onde o lema é: o tempo é
dinheiro, enquadra-se perfeitamente o texto Vista
Cansada de Otto Lara Resende. Esse texto trata sobre o olhar desatento da sociedade.
Onde o olhar torna-se banalizado de tanto se vê e com isso passa-se a não enxergar.
Fazendo com que as coisas básicas da vida passam despercebidas e não temos mais
a consciência do que nos cerca. Afinal, quantas vezes já passamos por uma rua e
notamos se nela tinha flores, um porteiro ansioso para dar um bom dia ou um
homem de rua deitado no chão duro? São fatos que passam despercebidos diante da
nossa visão que apenas tem o foco de atingir o objetivo do trabalho, do
capitalismo. E assim com a ausência do olhar, se instala no coração o monstro
da indiferença. Através desse olhar opaco e indiferente, os vídeos: Ilha das flores do
diretor Jorge Furtado e Boca de lixo de Eduardo Coutinho retrata a diferença do
olhar de cada indivíduo de acordo a sua condição social. O vídeo Ilha das flores
demonstra o absurdo da escala de prioridade, onde seres humanos se encontram
depois dos porcos, e isso devido unicamente à diferenciação quanto ao poder
aquisitivo de cada um. Ou seja, o capitalismo promove a exclusão social. E
dessa forma, de acordo a condição financeira, explicita no vídeo o desperdício de
um alimento que para si não é comestível, porém, na visão de outro, é esse
alimento considerado lixo o essencial para a sua sobrevivência.
Já o vídeo Boca de lixo mostra um ponto de vista
diferente, o ponto de vista da realidade das pessoas contadas por elas mesmas.
Esses catadores de lixos relatam que alguns estão ali por opção e outros pela
falta da mesma, no entanto, mostra-se a construção de elos familiares com expressões
de sorrisos e brincadeiras. Essas pessoas que vivem a margem da sociedade e tem
consciência desse fato é expresso pela frase de um menino: ‘‘Ninguém rouba aqui
não, todos trabalham. ’’, ou seja, por serem marginalizados são julgados pela
sociedade e já de forma defensiva o menino diz essa frase. Logo, esses
trabalhadores como qualquer outro, dependendo do tipo de visão são encarados
como ladrõezinhos, que não querem trabalhar ou como trabalhadores braçais que dão
duro no dia a dia para manter o sustento de suas famílias.
Por meio da discussão em sala de aula e das observações do
texto e dos vídeos, concluo que tudo depende do ponto de vista de
cada um, e com essa sociedade cada vez mais capitalista e individualista muitos
dilemas sociais são cada vez mais excluídos e julgados por aqueles que tiveram
oportunidades melhores. Devemos então, exercitar o nosso olhar, pois há sempre
algo a ser visto, a ser valorizado. Pois, ‘‘O hábito suja os olhos e lhes baixa a
voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos.
’’,
como escrito no texto Vista cansada.
Hortência Silva Andrade
Graduanda em Bacharelado
Interdisciplinar em Saúde -Vespertino- UFSB
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