domingo, 21 de junho de 2015

O olhar corruptível

           No mundo capitalista, onde quem manda mais é quem tem melhor condição financeira e consequentemente maior poder social, percebe-se que a massa da população fica a margem desse sistema. O capitalismo rege o mundo diferenciando classes e fomentando de forma indireta ou diretamente a desigualdade.                                                                                                     No dia a dia com os compromissos e a correria de uma vida onde o lema é: o tempo é
dinheiro, enquadra-se perfeitamente o texto Vista Cansada de Otto Lara Resende. Esse texto trata sobre o olhar desatento da sociedade. Onde o olhar torna-se banalizado de tanto se vê e com isso passa-se a não enxergar. Fazendo com que as coisas básicas da vida passam despercebidas e não temos mais a consciência do que nos cerca. Afinal, quantas vezes já passamos por uma rua e notamos se nela tinha flores, um porteiro ansioso para dar um bom dia ou um homem de rua deitado no chão duro? São fatos que passam despercebidos diante da nossa visão que apenas tem o foco de atingir o objetivo do trabalho, do capitalismo. E assim com a ausência do olhar, se instala no coração o monstro da indiferença.                              Através desse olhar opaco e indiferente, os vídeos: Ilha das flores do diretor Jorge Furtado e Boca de lixo de Eduardo Coutinho retrata a diferença do olhar de cada indivíduo de acordo a sua condição social. O vídeo Ilha das flores demonstra o absurdo da escala de prioridade, onde seres humanos se encontram depois dos porcos, e isso devido unicamente à diferenciação quanto ao poder aquisitivo de cada um. Ou seja, o capitalismo promove a exclusão social. E dessa forma, de acordo a condição financeira, explicita no vídeo o desperdício de um alimento que para si não é comestível, porém, na visão de outro, é esse alimento considerado lixo o essencial para a sua sobrevivência.          


        Já o vídeo Boca de lixo mostra um ponto de vista diferente, o ponto de vista da realidade das pessoas contadas por elas mesmas. Esses catadores de lixos relatam que alguns estão ali por opção e outros pela falta da mesma, no entanto, mostra-se a construção de elos familiares com expressões de sorrisos e brincadeiras. Essas pessoas que vivem a margem da sociedade e tem consciência desse fato é expresso pela frase de um menino: ‘‘Ninguém rouba aqui não, todos trabalham. ’’, ou seja, por serem marginalizados são julgados pela sociedade e já de forma defensiva o menino diz essa frase. Logo, esses trabalhadores como qualquer outro, dependendo do tipo de visão são encarados como ladrõezinhos, que não querem trabalhar ou como trabalhadores braçais que dão duro no dia a dia para manter o sustento de suas famílias.                


           Por meio da discussão em sala de aula e das observações do texto e dos vídeos, concluo que tudo depende do ponto de vista de cada um, e com essa sociedade cada vez mais capitalista e individualista muitos dilemas sociais são cada vez mais excluídos e julgados por aqueles que tiveram oportunidades melhores. Devemos então, exercitar o nosso olhar, pois há sempre algo a ser visto, a ser valorizado. Pois, ‘‘O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. ’’, como escrito no texto Vista cansada.
 

Hortência Silva Andrade
Graduanda em Bacharelado 
Interdisciplinar em Saúde -Vespertino- UFSB

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